sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Som Imaginario - A Matança do Porco (1973)

Esse é o terceiro e último álbum dessa incrível banda surgida nos anos de 1970, composta originalmente pelos exemplares músicos: Wagner Tiso - piano e órgão, Tavito - violão, Luiz Alves - baixo, Robertinho Silva - bateria, Frederiko (Fredera) - guitarra e Zé Rodrix - órgão, percussão voz e flautas.

Com absoluta certeza, o álbum "A Matança do Porco" é o trabalho mais  cobiçado pelos apreciadores da música instrumental, por consistir-se de uma excepcional, vibrante e brilhante fusão de estilos musicais, envolvendo jazz, rock progressivo, música erudita e música regional brasileira.

Mas acima de tudo isso, a banda extrapola o que seria uma simples experiência sonora magistral, criativa e agradável, transmitindo ao ouvinte uma profunda e verdadeira paixão pela obra. O empenho e o amor envolvidos na criação e na execução de cada nota são facilmente capturados pelo ouvinte. São sentimentos, e imagens que fluem de uma maneira tão natural e rara, que por não conseguir descrever com palavras, singelamente digo que invadem o espírito humano (no seu mais amplo sentido) sem que o ouvinte tenha que conscientemente se dedicar a sua audição. Se existem acordes mágicos, capazes de alterar a percepção humana da realidade, esses acordes foram efetivamente revelados na genialidade de Wagner Tiso e por todos os demais músicos que inequivocamente contribuíram para o aperfeiçoamento dessa verdadeira obra-prima.

Recordo-me perfeitamente da primeira vez que tive o privilégio de escutar a magnífica "Armina". Estava em 1980 estacionando meu carro. Quando ia desligar o rádio entraram os primeiros acordes... me lembro que imediatamente o "tempo"  parou. Fazia uma linda manhã de verão e pude então ver, não apenas olhar, o azul do céu, o verde, o amarelo e o marrom das árvores, os coloridos reflexos do sol, os inúmeros feixes de luz que se projetavam pelas copas das árvores, sentia a agradável brisa, fiquei alí imobilizado, tranquilamente fazendo minha "lisérgica" (embora careta) viagem até o final da 'Armina'. Só desliguei o rádio e fechei o carro, quando o locutor da rádio finalmente divulgou a autoria daquela excepcional composição.

Penei muito para conseguir minha primeira cópia em LP, cuja capa foi a escolhida para ilustrar a presente postagem. Tempos depois consegui uma versão mais bem conservada, mas já com a capa que acabou por ser a mais divulgada.

"A Matança do Porco", outra magnífica e exemplar composição, foi composta por Wagner Tiso para o filme "Os Deuses e os Mortos", de Ruy Guerra, que concorreu às premiações do Festival de Berlim, em 1971. Em 1970, "Os Deuses e os Mortos" de Ruy Guerra já havia sido premiado com o Candango de Melhor Filme e Melhor Diretor no Festival de Brasília. Dentre o elenco destacam-se, Othon Bastos, Norma Benguell, Dina Sfat, Ítala Nandi, Mara Rúbia e Milton Nascimento.

Na verdade, o álbum "A Matança do Porco" seria o primeiro álbum solo da carreira do grande músico, compositor, arranjador, regente e pianista Wagner Tiso. Naquela época a banda 'Som Imaginário', por obrigação contratual, ainda devia entregar a gravadora mais um LP. Acredito, que por iniciativa do próprio Wagner Tiso, que já havia composto  grande parte do álbum, além da "A Matança do Porco' para o filme de Ruy Guerra, decidiu-se por entregá-la a gravadora, de forma a cumprir com sua obrigação contratual. Dessa forma, o que deveria ser seu primeiro álbum solo, acabou sendo lançando sob o título "A Matança do Porco", tema principal do filme "Os Deuses e os Mortos", passando assim, a constar como um álbum pertencente a discografia da banda Som Imaginário.

Existe ainda uma interessante curiosidade que está escondida no nome da belíssima "Armina". Pessoalmente sempre pensei tratar-se de um nome próprio, possivelmente de alguma bela e formosa mulher, que tenha de alguma forma arrebatado Wagner Tiso. Recentemente descobri, que 'Armina', na verdade trata-se de uma corruptela da expressão "As Minas", ou seja, traduzindo para os mais jovens: "As meninas", "as gurias", "as mulheres", naquela época (no Rio de Janeiro) nos referíamos "as meninas" como "As Minas". Como Wagner Tiso era muito assediado pelo público feminino, seus parceiros, sempre o cumprimentavam perguntando: "E as minas?".

A Matança Do Porco (1973)

Músicas:
01. Armina
02. A 3
03. Armina (Vinheta 1)
04. A Nº 2
05. A Matança Do Porco
06. Armina (Vinheta 2)
07. Bolero*
08. Mar Azul
09. Armina (Vinheta 3)**

Todas as composições foram escritas por Wagner Tiso, exceto:
 * por Milton Nascimento/Luís Alves/Tiso/Tavito/Robertinho Silva
 ** por Luís Alves/Tiso

Músicos:
Wagner Tiso: Teclados
Luís Alves: Baixo
Robertinho Silva: Bateria
Tavito: Guitarra de 12 cordas (2,3,7)
Frederiko (Fredera): Guitarra (1,3,5)
Chico Batera: Percussão (2,4,5)
Danilo Caymmi: Flauta (2,7,8)
Chiquito: Guitarra (2,4,8)
Golden Boys e Milton Nascimento: Vocais (5)
Orquestra Odeon sob a regência de Arthur Verocai

[Obrigado = Thanks]

Dedico esta singela postagem a Memória do grande músico, compositor, arranjador, saxofonista, clarinetista e mestre de Teoria Musical de Wagner Tiso, o inesquecível e inigualável  
Paulo Moura (15/07/1932 - 12/07/2010).